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Foto do escritorClemente Junio

Música e Filosofia: O Êxtase na Catedral de Santo Antônio

Por professor Pedro Henrique Teixeira

O palco: A catedral de Santo Antônio. A atração: O grupo Contracantos. O espetáculo: O êxtase musical do regente do grupo de canto, o professor Flávio Medeiros da UFPE. Um êxtase que só a música é capaz de proporcionar. Eu poderia fazer um esforço para descrever aquela intimidade dionisíaca com a música que o FIG proporcionou na catedral (Um êxtase dionisíaco numa catedral cristã você só tem a oportunidade de ver no FIG), mas para não me entregar a tamanho esforço eu lanço mão do filósofo que mais teve intimidade com a música. Descrevo a leitura que fiz da biografia de Nietzsche escrita pelo excelente Safranski.


"A filosofia de Nietzsche nasce da tristeza pós-sirênica, e gostaria de salvar pelo menos o espírito da música encontrando-a na palavra, um eco da despedida e uma harmonia com o possível retorno da música, para que não se quebre o arco da vida" Rüdiger Safranski

O verdadeiro mundo é música. A música é o inaudito[1]. Quando a ouvimos, pertencemos ao Ser. Para Nietzsche a música não deveria cessar nunca. Mas ela cessa, e por isso temos o problema de como continuar vivendo quando a música acaba.


Nietzsche escreve, em dezembro de 1871, ao amigo Erwin Rohde, depois de ouvir um concerto de Wagner:


“Tudo o que não se pode compreender com relações musicais, produz em mim, realmente, nojo e repugnância”

Nietzsche se pergunta: Existe uma vida após a música, mas nós a suportaremos? Sem a música a vida seria um engano.


Para o pensador alemão a música nos ofereceria momentos de verdadeiro sentimento. Safranski chega a afirmar que toda a filosofia de Nietzsche é uma tentativa de manter-se vivo ainda que a música tenha acabado.


Um amigo de juventude, Paul Deussen, relata que em fevereiro de 1865 Nietzsche estava numa casa de prostituição, festa e vida, (na cidade de Colônia).


Nietzsche faz um relato pós divertimento, onde confessa que: "De repente eu estava rodeado por meia dúzia de aparições em gazes e lantejoulas, que me olhavam expectantes. Fiquei ali parado por um momento, perplexo. Depois instintivamente fui ao piano como a única criatura com alma naquele grupo e toquei alguns acordes. Eles me liberaram da minha paralisia, e saí dali”.

Naquele momento, relata Safranski, a música triunfou sobre a sensualidade. Ainda segundo o biografo em questão, Nietzsche coloca a música, a música de Wagner muito acima do prazer sexual. Música, o sexo sublime.


A música leva ao coração do mundo. Esse êxtase existencial é chamado por Nietzsche, na sua obra O nascimento da tragédia, de “o arrebatamento do estado dionisíaco com sua anulação dos limites e fronteiras comuns da existência”. Enquanto o arrebatamento dura, reafirma Safranski, o mundo comum se afasta; quando retorna à consciência; o mundo é sentido com repulsa.

Por vezes a vivência da música é tão intensa que tememos pelo nosso pobre Eu, ameaçado de sucumbir no orgiasmo musical, de tão extasiado com a música, conclui Safranski. O ser humano, segundo Nietzsche, é uma criatura que saltou sobre os limites animalescos do cio e por isso não procura prazer apenas eventualmente, mas o tempo todo. Mas há menos fontes de prazer do que a nossa fome, então a natureza nos impeliu a trilhar a trilha da invenção-do-prazer.


Para fugir do tédio, sentimento exclusivamente humano, procuramos uma excitação que, não encontrada, tem de ser inventada! Então nos tornamos animais num jogo com a busca dos prazeres. O jogo, afirma Safranski, é uma invenção que entretém os afetos, é a arte de auto-excitação dos afetos, a música é expressão desse jogo. A fuga do tédio é a mãe das artes e da música!


O tédio, para o qual a arte é um refúgio torna-se, no pensamento de Nietzsche, o abismo escancarado do Ser. No tédio vivemos o instante como passagem vazia do tempo.


Então Safranski conclui: Sobre o subsolo do nada a arte realiza seu trabalho de auto-excitação. Isso, por sua vez, é quase um empreendimento heroico, pois devem ser entretidos os que estão em perigo de despencar. Nessa perspectiva a arte é um tensionar o arco para não cair na distensão niilista. A arte ajuda a viver porque senão a vida não sabe o que fazer quando assaltada por sentimentos de ausência de sentido.


[1] “UNGEHEUER” – extraordinário, incomum.


Professor Pedro Henrique Teixeira

Agradecemos ao professor Pedro Henrique Teixeira pelo espetáculo de palavras e emoções compartilhado conosco. A música e a arte são a alma do #FIG2023, proporcionando êxtase e conexões profundas.

8 Comments

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Heluana Silva
Heluana Silva
Jul 27, 2023

Parabéns Pedro amei❤😍

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Junior Oliveira
Junior Oliveira
Jul 26, 2023

Parabéns Pedro pela sua obra de arte, que o senhor faça mais obra de arte como essa.

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Wemily Jamily
Wemily Jamily
Jul 26, 2023

simplesmente incrível, parabéns Pedro!!

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Sara Vitória
Sara Vitória
Jul 26, 2023

Sábias palavras Pedro, mais uma vez presentiando o mundo com sua sabedoria 👏👏 sucesso✊️

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luizalima7188
Jul 26, 2023

Parabéns, Pedro.

você merece tudo de bom!!

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